Adormecidas

Entrei no ônibus e sentei-me no último banco.
Ao meu lado havia uma mulher com uma criança.
A criança, que não tinha ainda nem um ano, chorava e esperneava, parecia sentir calor, cansaço e fome...
A mãe, apesar de não espernear, também apresentava sinais de cansaço além de infelicidade.
De uma maneira bem desajeitável, a mulher arrumou a filha em seu colo colocando uma chupeta presa a uma fralda, ambas velhas e encardidas, na boca da criança.
A menina quis recusar, talvez dizer que precisava de outra coisa, mas estava cansada e adormeceu. A mãe adormeceu primeiro.
A cada freada do ônibus, ambas iam para frente em direção ao ferro que as protegia da porta traseira. A mãe então abria os olhos e rapidamente voltava adormecer. Em todas as ocasiões tive ímpetos de segurar a criança com medo de que ela batesse seu rostinho no ferro.
Coloquei me a pensar: de onde elas vinham? Talvez de um posto médico público. Talvez, a mulher tivesse passado a noite toda com a criança em um pronto socorro. Por isso conseguia dormir profundamente com tanto desconforto. Será que precisavam de ajuda?
Meu ponto chegou. A menina continuava a dormir desajeitadamente no colo desconfortável de sua mãe.
O ônibus parou... e eu desci. Por um bom tempo fiquei com elas no meu pensamento: mãe e filha adormecidas.
(História Real - 2004)
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